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“Bairro judeu e gueto de Cracóvia: história e roteiro de onde visitar”


É difícil visitar a Polônia e não pensar na triste história dos milhões de judeus que foram vítimas do Holocausto. O passado do antigo bairro judeu de Cracóvia e do gueto não passam desapercebidos. E como não lembrar de Auschwitz, o maior campo de concentração e extermínio nazista?

Reviver o passado e não deixar que a história se repita é, acima de tudo, necessário.

Ter tido a experiência de morar em Cracóvia me deu a oportunidade de entender e absorver muitas coisas que ainda eram abstratas para mim. E eu espero que, após a sua visita à cidade, o seu sentimento seja o mesmo.

A partir da minha perspectiva, compartilho no post um pouco da história dos judeus na cidade e dou dicas de o que ver no antigo bairro judeu e no gueto de Cracóvia.

HISTÓRIA DOS JUDEUS EM CRACÓVIA

Há registros de que a primeira grande onda de imigração de judeus na região de Cracóvia aconteceu entre os Séculos 11 e 14. 

Provavelmente, os primeiros colonos vieram de territórios alemães. Vale lembrar que os mapas, tanto da Polônia quanto da Alemanha, eram bem diferentes naquela época.

Esses judeus, em sua maioria, estavam fugindo da perseguição religiosa – afinal, o antissemitismo¹ surgiu muito antes da existência desse termo.

Em 1334, quando a Polônia era conhecida como o reino da tolerância  – em diversos sentidos, inclusive religioso – o rei Kazimierz Wielki (Casimiro, o Grande) concedeu alguns direitos ao povo judeu, como o livre comércio, liberdade religiosa e até mesmo alguns benefícios fiscais na região de Małopolska (Pequena Polônia em tradução livre), cuja capital é Cracóvia.

A Polônia se tornou um abrigo para judeus perseguidos e expulsos de vários países europeus e o lar da maior comunidade judaica do mundo antes da Segunda Guerra Mundial. 

Importante dizer que Kazimierz foi o nome mais importante da Polônia imperial e que, durante o seu reinado, a capital do país era Cracóvia.

Apesar disso, o território da cidade de Cracóvia era bem menor do que é atualmente. Na verdade, ela ocupava apenas o que hoje é considerado o centro histórico de Cracóvia – do Portão Barbican (que era a principal entrada da cidade) ao Castelo de Wawel.

Nas áreas circundantes foram criadas outras cidades, uma delas com o nome do rei: Kazimierz. Nessa época, a cidade de Kazimierz era separada de Cracóvia por uma braço do rio Vístula  – que hoje não existe mais.

Antes e depois - mapa de Cracóvia

Fonte: CabinWizzard via Reddit

Pelas imagens, dá pra ter uma ideia de como era o Kazimierz antigamente e como é agora, totalmente fundido com Cracóvia.

¹ antissemitismo: preconceito, hostilidade ou discriminação contra judeus.

Kazimierz, o antigo bairro judeu de Cracóvia

Após a morte do rei Kazimierz, a tolerância polonesa já não era mais a mesma. Em Cracóvia, muitos conservadores cristãos não estavam satisfeitos com a liberdade religiosa e comercial garantida aos judeus. Após represálias e um grande incêndio que atingiu Cracóvia em 1495, o então rei, João I Albert, transferiu muitos judeus para a cidade vizinha de Kazimierz.

A partir daí, a cidade, que já contava com uma sinagoga, passou a reunir não só cristãos, mas também uma forte comunidade judaica. Não era o único espaço habitado por judeus, mas era a maior comunidade judaica da região.

Apesar da barreira cultural e religiosa (e até mesmo física, já que um muro separou a cidade por um tempo), o catolicismo e o judaísmo coexistiam no mesmo lugar. Inclusive, não era incomum que alguns católicos trabalhassem para judeus para que esses mantivessem o seus negócios funcionando durante o shabat².

Ao longo dos séculos, houve o florescimento da cultura judaica em Kazimierz, a construção de várias sinagogas e também instituições de ensino. 

Uma segunda grande onda de imigração de judeus aconteceu nos séculos 15 e 16.

Em 1800, Kazimierz deixou de ser uma cidade independente e foi anexada à cidade de Cracóvia. O braço do Rio Vístula que havia entre as duas cidades foi soterrado.

Nos séculos seguintes, Kazimierz passou por altos e baixos, mas estima-se que no período que antecipou a Segunda Guerra Mundial a população de judeus em Cracóvia (incluindo a maioria de Kazimierz) era de cerca de 70 mil pessoas – o maior número até então.

Cracóvia antes da Segunda Guerra Mundial

Kazimierz antes da Segunda Guerra Mundial

² shabat: dia de descanso semanal no judaímo, dura do pôr-do-sol da sexta-feira até ao pôr-do-sol do sábado.

Cracóvia na Segunda Guerra Mundial

Em 1 de setembro de 1939 a Polônia foi invadida pelos nazistas. Em Cracóvia não houve muita chance para a resistência polonesa e a cidade foi rapidamente tomada.

A perseguição aos judeus não demorou e logo essas pessoas tiveram as suas contas bloqueadas e os bens confiscados, passaram a usar braçadeiras de identificação e foram obrigadas a prestar serviços forçados. Os negócios antes administrados por judeus foram transferidos para aliados do partido nazista.

Cracóvia foi a cidade elegida para se tornar a capital do Governo Geral – órgão nazista responsável pela administração do território polonês não incorporado à Alemanha. Esse também foi um dos motivos pelo qual a cidade não foi muito destruída durante a invasão – o que não aconteceu com outras cidades polonesas.

Sob o comando do Governador-Geral Hans Frank, começou o processo de germanização de Cracóvia. O objetivo era torná-la a cidade “racialmente mais limpa” da Polônia. A partir de 1940, milhares de judeus foram expulsos e deportados para áreas rurais. Apenas cerca de 15 mil trabalhadores e suas famílias foram autorizados a permanecer em Cracóvia.

Em março de 1941 foi estabelecido o Gueto de Cracóvia. Numa área antes ocupada por cerca de 3 mil pessoas, foram alocados 15 mil judeus em condições subumanas. Cada apartamento era ocupado por cerca de quatro famílias que não se conheciam. Com condições sanitárias precárias, trabalho escravo exaustivo, dieta pobre e surtos epidêmicos constantes, muitos não sobreviviam ao dia-a-dia.

Judeus marchando durante a dissolução do gueto de Cracóvia

Foto: United States Holocaust Memorial Museum, Instytut Pamieci Narodowej

Um ano após, com o avanço do plano para a “solução final dos judeus”, começou a deportação em massa de judeus para os campos de concentração e extermínio. Entre junho de 1942 e março de 1943 houve a liquidação do gueto.

Judeus em Cracóvia: antes e depois da Segunda Guerra Mundial

Estima-se que haviam cerca de 70 mil judeus em Cracóvia antes da Segunda Guerra Mundial. Ao final, acredita-se que restaram cerca de 3 mil, dos quais boa parte são “judeus Schindler” – falo sobre isso mais adiante.

Desses, a maioria emigrou para a América do Norte, América do Sul e, em especial, para o então criado Estado de Israel.

Atualmente, o número de judeus em Cracóvia não é muito preciso. Sabe-se que por volta de 300 pessoas frequentam as Sinagogas do Kazimierz, principalmente a Remuh (ortodoxa) e a Tempel (reformista). Contudo, presume-se que por volta de mil judeus habitam a cidade.

A Lista de Schindler e a revitalização do antigo bairro judeu de Cracóvia

Com o fim da Segunda Guerra Mundial, a Polônia tornou-se uma República da União Soviética. Foram décadas bastantes difíceis para o país.

Nesse período e sem os seus moradores originais, o antigo bairro judeu de Cracóvia ficou totalmente largado e marginalizado. Virou lar de bandidos e drogados, tornando-se um local extremamente perigoso.

As coisas começaram a mudar quando o cineasta Stiven Spielber resolveu produzir o (imperdível) filme “A Lista de Schindler” (1993).

 

Pra quem não assistiu ao filme, que é baseado em fatos reais, ele conta a história de Oskar Schindler. 

Membro do partido nazista, Oskar Schindler abre uma fábrica em Cracóvia para se aproveitar da mão de obra barata dos judeus, mas acaba desenvolvendo uma certa empatia pelos seus funcionários e faz de tudo para salvá-los. Por fim, o empresário usa toda a sua influência e fortuna para salvar mais de 1100 judeus da morte nos campos de extermínio.

 

Boa parte do filme traz cenas do Gueto de Cracóvia. Porém, quando a produção foi gravada o antigo gueto já havia mudado muito e não tinha mais a cara de uma Polônia de época. Foi aí que Stiven Spielber descobriu que o Kazimierz tinha parado no tempo e possuia os cenários perfeitos para o filme. Por isso, boa parte das cenas externas foram gravadas lá.

Produção da Lista de Schindler no Kazimierz, em Cracóvia

Com o sucesso de A Lista de Schindler nos cinemas, muitos turistas foram atraídos pela história e começaram a visitar o antigo bairro judeu de Cracóvia. Aos poucos, o lugar também se tornou reduto de artistas e jovens universitários.

Quem visita o Kazimierz hoje não vê um bairro moderno e renovado, pois não é isso que caracteriza esse processo de revitalização. O clima do Kazimierz é diferente: é o de uma Cracóvia de época, um pouco descuidada, mas com uma camada de vida, jovem e alternativa.

E, como dá pra perceber, não restou muito da vida e cultura judaica em Cracóvia no pós-guerra. É também por isso que atualmente existe um esforço para resgatar essa fé e cultura, principalmente através dos trabalhos desenvolvidos pelo Centro Comunitário Judaico de Cracóvia (JCC).

O QUE VER NO ANTIGO BAIRRO JUDEU DE CRACÓVIA 

Agora que já passamos por um breve contexto histórico, é hora de saber o que ver e fazer no Kazimierz, o antigo bairro judeu de Crácovia. Mais adiante, também dou dicas de o que fazer no antigo gueto de Cracóvia.

Você precisará de meio dia para passar por todas as atrações (que são próximas) ou um dia inteiro se quiser entrar em um ou dois dos museus recomendados. Se tiver que escolher apenas um museu, recomendo a Fábrica de Oskar Schindler.

Quem tiver mais tempo na cidade pode reservar dois dias para conhecer tudo com calma: um dia para o antigo bairro judeu e outro para o gueto e a Fábrica de Schindler.

Visita às sinagogas

Atualmente existem 7 sinagogas no Kazimierz, das quais nem todas permanecem abertas, seja para fins religiosos ou para visitação. Por isso, dentre todas, são 4 as que eu indico conhecer:

Stara Synagoga | Old Synagogue | Antiga Sinagoga

O prédio do Século XV é o mais antigo sobrevivente da arquitetura judaica na Polônia. A primeira e mais importante Sinagoga do Kazimierz também era considerada como o centro da comunidade no pré-guerra. Durante a ocupação nazista, ela foi saqueada e usada como depósito de munições.

Hoje, após renovações, não funciona mais como um local de orações (exceto em eventos especiais). Ao invés disso, há um pequeno museu sobre as tradições dos judeus na Polônia, com a exposição de fotografias e objetos religiosos.

A visita é rápida e a exposição contém explicações em polonês e inglês.

A Antiga Sinagoga é aberta para visitação das 10h às 17h de terça a domingo e das 10h às 14h nas segundas. O ingresso custa 15 PLN, mas é gratuito na segunda-feira.

Synagoga Poppera | Popper Synagogue | Sinagoga Popper

Próxima da Antiga Sinagoga e na mesma praça que era considerada o centro comercial dos judeus de Kazimierz, a Sinagoga Popper foi construída por um rico comerciante chamado Wolf Popper (daí o nome).

A pequena sinagoga foi saqueada na Segunda Guerra Mundial e passou por algumas reformas depois disso. Hoje funciona como livraria e conta com vários artigos, mapas e livros interessantes sobre a cultura e religião judaica. Do pouco que restou da arquitetura original, vale a pena reparar na fundação, nos arcos e na ala dedicada às mulheres.

Popper Synagogue - Sinagogas em Cracóvia

A livraria abre diariamente das 9:30h às 18h e a entrada é gratuita.

Synagoga Remu | Remuh Synagogue | Sinagoga Remu

A pequena sinagoga ortodoxa do Kazimierz é a única que funciona regularmente para cultos. Apesar de ter sido bastante danificada na Segunda Guerra Mundial, foi restaurada e ainda mantém algumas partes originais.

Ao lado, através de um único acesso pela sinagoga, fica o Antigo Cemitério.

O cemitério judeu, que é um dos mais antigos da Polônia, funcionou regularmente até 1800. Destruído na Segunda Guerra Mundial, foi reconstruído mais tarde. A maioria das lápides não continua nos postos originais, com exceção da do Rabino Moses Isserles, que é visitada por judeus do mundo todo.

A Sinagoga Remu fica aberta diariamente das 10h às 16h e a visitação custa 10 PLN, incluindo a entrada ao cemitério.

Apesar de abrir diariamente, recomendo evitar visitas (turísticas) no shabat/sábado, já que esse é um local de orações. Além disso, assim como em qualquer outro templo religioso, é recomendável se vestir modestamente durante a visita.

Synagoga Tempel | Tempel Synagogue | Sinagoga Tempel

A maior e mais nova sinagoga de Cracóvia (1860-1862) já sofreu várias reformas e ampliações ao longo do tempo, por isso não segue uma linha arquitetônica única.

Durante a ocupação nazista, a Sinagoga Tempel foi usada como estábulo. Depois de longos anos abandonada, foi finalmente reformada e mantém ao máximo o layout e decoração originais.

Apesar de não ser usada regularmente para cultos, eventualmente são organizadas cerimônias, concertos e reuniões da comunidade judaica ali.

Ao lado da sinagoga também fica o Centro Comunitário Judaico de Cracóvia (JCC), a mais importante organização de resgate da cultura judaica em Cracóvia. Pelo que eu soube, eles organizam eventos, workshops e várias atividades abertas ao público. Infelizmente o Centro permaneceu fechado durante a minha estadia por causa do COVID, mas vale a pena conferir a fanpage deles antes da sua visita.

Sinagoga Tempel em Cracóvia

A Sinagoga Tempel abre diariamente das 10h às 18h e o ingresso para visitação custa 10 PLN.

Galicia Jewish Museum | Museu Judaico da Galícia

A Galícia é uma região histórica situada no sul da Polônia e oeste do atual território da Ucrânia.

Esse museu possui uma exposição fotográfica da história e tradição judaica na porção polonesa da Galícia – antes, durante e depois do Holocausto.

Galicia Jewish Museum no bairro judeu de Cracóvia

 

As imagens em si não dão uma grande dimensão do passado. Isso porque a grande maioria foi tirada décadas após a Segunda Guerra Mundial. Mas para quem tem um tempo a mais na cidade vale a pena a visita, especialmente porque todas as fotografias possuem legendadas bastante explicativas e contextualizadas.

 

Plac Nowy

A Plac Nowy, também chamada de Żydowski, possui uma construção central em formato de anel e, antes da Segunda Guerra Mundial, funcionava como um abatedouro e açougue kosher (ou seja, seguindo as leis do judaísmo).

Assim como todo o antigo bairro judeu de Cracóvia, o local ficou bastante deteriorado no período pós-guerra.

Hoje, no entanto, e apesar da cara de malcuidada, essa praça é considerada o centro do Kazimierz. Nos arredores estão os principais bares e restaurantes da região e, na própria praça, existem feiras de antiguidades e outros objetos (principalmente nas manhãs de domingo).

Plac Nowy no bairro judeu de Cracóvia

Além disso, a construção principal reúne vários vendedores do principal fast-food de Cracóvia: o zapiekanka. E já fica aqui a dica: nem ouse prová-lo em outro lugar, os da Plac Nowy são os melhores.

O próprio zapiekanka tem uma história interessante. O lanche, que na versão original é uma baguete com queijo e cogumelos, foi criado durante o período socialista da Polônia. Essa também foi a era da popularização dos fast-foods nos países capitalistas.

Como para um país socialista – cuja racionalização de alimentos refletia no difícil acesso a insumos como carne – era difícil reproduzir um lanche como o hambúrguer, criou-se algo com o que se tinha ao alcance. 

Zapiekanka, o fast food da Polônia

Zapiekanka caprese, minha versão preferida

Hoje o zapiekanka mantém a mesma base de queijo e cogumelos, mas dá pra escolher diversos toppings e deixá-lo mais incrementado. Refeição simples, rápida, gostosa e barata. Vale a pena provar!

Schindler’s List Passage

Tão hollywoodiano que consta no Google Maps pelo seu nome em inglês mesmo.

Lembra da importância da produção de Steven Spielberg na revitalização do antigo bairro judeu de Cracóvia? Pois então! A Schindler’s List Passage é uma das locações usadas nas gravações.

O local é um corredor entre as ruas Józefa e Beera Meiselsa, próximo da Plac Nowy. Na cena do filme, a Sra. Drezner se esconde da evacuação do Gueto de Cracóvia e deportação para o campo de concentração com a ajuda do amigo do seu filho, que colaborava com os oficiais nazistas.

O local, em si, não tem nada de mais. O interessante é reparar na arquitetura típica dos prédios judeus daquela época, com pátios voltados para dentro e sacadas compartilhadas entre os vizinhos – algo bem comunitário. Serve pra entender um pouco como era o bairro na era pré-guerra.

Bazylika Bożego Ciała | Basílica do Corpus Christi

Quando os judeus de Cracóvia foram transferidos para a então cidade de Kazimierz, a Basília do Corpus Christi (Bazylika Bożego Ciała) já estava ali. Além disso, também havia uma separação física entre a parte judaica (ao norte) e a parte cristã (ao sul) do atual distrito, a qual acabou caindo séculos mais tarde.

Basílica do Corpus Christi, Polônia

Foto: Getty Images

Ainda assim, é possível perceber uma notável diferença na arquitetura das duas áreas. Você vai perceber que, não à toa, todas as sinagogas e cemitérios judaicos estão situados na porção norte do Kazimierz.

Nowy cmentarz żydowski | Novo Cemitério Judaico

O Novo Cemitério foi estabelecido em 1800, logo que o Antigo Cemitério deixou de receber mais corpos. O local, que inicialmente contava com 20 hectares, foi reduzido a apenas 4,5 hectares – muito por causa da devastação durante a guerra.

Além disso, muitas das lápides foram vendidas ou até mesmo usadas na construção civil pelos nazistas.

Cemitério no antigo bairro judeu de Cracóvia

Há um pequeno memorial dedicado às vítimas do Holocausto, contando com cacos de diversas lápides.

É um pouco chocante ver as antigas lápides abandonadas e cobertas pela vegetação. Como famílias inteiras das pessoas antes sepultadas ali foram executadas, muitos túmulos deixaram de ser visitados e cuidados.

Algumas personalidades importantes para a comunidade judaica de Cracóvia também estão sepultadas lá e o cemitério funciona até hoje.

O local fica aberto das 9h30 às 16h30 e fecha aos sábados. E, mais uma vez, é adequado se vestir modestamente e agir com o máximo de respeito durante a visita.

O QUE VER NO ANTIGO GUETO DE CRACÓVIA 

O antigo gueto de Cracóvia fica numa porção do atual bairro de Podgórze. Era um ponto estratégico para os nazistas porque o local ficava próximo do Kazimierz (de onde sairia a grande maioria dos judeus), mas do outro lado do Rio Vístula – o que manteria a imagem “limpa” de Cracóvia.

Nesse lugar milhares de judeus foram movidos à força e encarcerados em março de 1941 para viver amontoados, escravizados e sem as mínimas condições de dignidade.

O grande portão de entrada do gueto de Cracóvia (que não existe mais), com a Estrela de Davi no topo e arquitetura que lembravam lápides, marcava mais um símbolo da perversão nazista.

Portão do Gueto de Cracóvia

Imagem histórica do antigo portão do Gueto de Cracóvia

O Gueto de Cracóvia foi liquidado entre junho de 1942 e março de 1943, com a maioria de seus habitantes deportados para o campo de extermínio de Belzec. Em menor quantidade, houve também a deportação para o campo de trabalho de Płaszów e para o campo de trabalho e extermínio de Auschwitz. Milhares também morreram no próprio gueto, a tiros ou em razão de doenças – que eram comuns dada a condição sanitária.

Não há tanto a explorar no antigo Gueto de Cracóvia porque, em primeiro lugar, ele já era muito pequeno e, além disso, mudou muito ao passar dos anos. Mas esses são alguns pontos que merecem a visita:

Plac Bohaterów Getta | Ghetto Heroes Square

É na Plac Bohaterów Getta, ou Guetto Heroes Square, que fica um dos mais sensíveis memoriais dedicados às vítimas do Holocausto.

Nessa praça havia a separação dos judeus aptos ao trabalho e daqueles considerados inúteis para os nazistas.

Também era ali que os judeus deixavam os seus poucos pertences antes de partirem na estação de trem ao lado para os campos de concentração, sob a promessa de que os bens seriam levados pelos oficiais em outros vagões.

O memorial possui 33 grandes cadeiras de metal ao longo da praça e mais 37 cadeiras menores espalhadas nos arredores. Juntas, as 70 cadeiras vazias representam os quase 70 mil judeus de Cracóvia e os bens deixados para trás.

Praça dos Heróis em Cracóvia - Ghetto Heroes Square

De fato, é um monumento bem emocionante. É muito difícil passar por ele e não pensar em tudo que aconteceu no lugar.

Apteka pod Orłem | The Eagle Pharmacy

Quando o Gueto de Cracóvia foi estabelecido, todos os residentes não judeus tiveram que se mudar da área, com uma única exceção.

O farmacêutico Tadeusz Pankiewicz, que conseguiu obter uma licença para manter em funcionamento o seu negócio, testemunhou todos os passos do Gueto de Cracóvia, da criação à sua total dissolução.

Através da Apteka pod Orłem, ou Farmácia da Águia, Tadeusz Pankiewicz atuou de todas as formas para dar suporte aos judeus. Ajudou fornecendo remédios, contrabandeando alimentos, falsificando documentos e entregando tintas de cabelo para as pessoas parecerem mais jovens (evitando deportações), dentre muitos outros auxílios.

A farmácia, que funcionava 24h, também era ponto de encontro de reuniões clandestinas no Gueto de Cracóvia.

Os testemunhos de Tadeusz Pankiewicz podem ser encontrados em seu livro “The Krakow Ghetto Pharmacy”, publicado em 1947. A partir do livro e do relato de outros judeus e poloneses que descreveram a vida no gueto, foi criado um museu bem interessante no local onde ficava a farmácia.

O museu fica aberto das 10h às 17h de quarta a domingo e o ingresso custa 14 PLN. Pra quem prefere fazer um tour guiado, dá pra combinar com a Fábrica de Schindler, que é próxima dali.

Fragmentos do muro do Gueto de Cracóvia

Um dos poucos trechos que restaram do muro original do gueto de Cracóvia fica na Rua Lwowska, 23-43. O muro agora conta com uma placa com a seguinte inscrição em hebraico:

“Aqui eles viveram, sofreram e morreram nas mãos dos torturadores alemães. A partir daqui, eles começaram sua jornada final para os campos de extermínio”

Oskar Schindler’s Enamel Factory | Fábrica de Oskar Schindler

E por último, mas não menos importante, vale a pena incluir na sua passagem a Cracóvia uma visita à Fábrica de Oskar Schindler.

Para mim, esse é um museu imperdível em Cracóvia. Aliás, se você quiser ver uma prévia, tenho um destaque no Instagram falando sobre ele.

O interessante é que o museu da Fábrica de Oskar Schindler (que fica no prédio original) não fala só da história dos mais de mil judeus salvos pelo empresário. O foco é, principalmente, a história de Cracóvia antes, durante e depois da Segunda Guerra Mundial.

O museu trás um panorama bem interessante do cenário que existia antes da ocupação nazista e de como era a vida durante a guerra, tanto para os judeus quanto para os poloneses.

Fábrica de Schindler - Gueto de Cracóvia

O local possui diversas imagens, artefatos, painéis interativos e boas explicações (em polonês e inglês). Pra ver tudo com cuidado, recomendo separar pelo menos 3 horas do dia.

Fazer um tour guiado também é recomendado, especialmente pra quem não domina o inglês ou polonês – não é impossível encontrar guias brasileiros em Cracóvia.

 

 


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A história de Cracóvia é triste e jamais deve ser esquecida.  Caminhar pelas suas ruas, observar a cultura e visitar os seus museus certamente garantirão muito aprendizado.

No entanto, a cidade não vive no passado. Cracóvia é vibrante e carismática. Entender a sua multiplicidade e aproveitar tudo o que há de bom nela é o que garantirá uma experiência completa na sua viagem.

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